Valle de la Luna

"É o melhor local do mundo para ver os afloramentos do Triásico completos e de forma ordenada." Eis algo que me seduziu... 
Confesso que me seduziu (a mim) mas nunca pensei que este tipo de atractivo seduzisse muita gente. Afinal estava enganada. Eram muitos os argentinos que se juntavam à porto da entrada do Parque Triásico para iniciar a visita. Organizei tudo a partir de Valle Fertil, e por 150Ar (mais 70Ar de entrada no parque) integrei um grupo organizado no Turismo Vessa (que não se recomenda, embora não haja muito mais opção) que saiu da povoação até ao parque. 
O percurso no parque só pode ser feito de veículo. O guia entra no carro da frente e todos os outros seguem-no em caravana durante cerca de 4 horas. As excursões saem a todas as horas. Quando saí eram 9.15h e estava um grupo com mais de 30 carros, carrinhas e centenas de pessoas. Tanta gente, pensei! Fiquei boquiaberta.
O guia do parque era muito "boa onda" e rapidamente ensinou a todos a história geológica da Terra começando por reduzir as eras geológicas à palma da mão. Adorei a simplicidade e lá fui tomando vários apontamentos para tornar a geologia numa coisa realmente simples. Começando do dedo mindinho tínhamos a Era pré-câmbrica, depois a Paleozóica, a Mesozóica, a Cenozóica e terminávamos no polegar com o Quaternário, também a mais pequena da história da Terra. Depois o guia vira-se para o público entusiasmado e pergunta:
- Quantas falanges tem o dedo do meio, o "Mesozóico"?
- Três, respondem as pessoas em coro.
- Pois bem, também o Mesozóico está dividido em 3 períodos: o Triásico, o Jurássico e o Cretácico. Vamos fazer a nossa visita ao Triásico e descobrir como era a Terra nessa altura.
Fiquei boquiaberta. Esta visita tinha sido desenhada para mim mas parecia que muito mais gente estava a gostar.
O percurso dentro do parque está predefinido e inicia-se nos materiais mais antigos do Triásico, com cerca de 230 milhões de anos. Nesta primeira paragem vê-se uma formação onde é possível apreciar vários níveis carbonatados, arenosos, cinzas de erupções vulcânicas e plantas fossilizadas. A ajuda do guia é fundamental.
A segunda paragem é no chamado vale pintado, um vale onde as diferentes formações geológicas aparecem expostas de forma majestosa e colorida. As camadas estão ligeiramente inclinadas devido à subducção da placa de Nazca sobre a placa sul-americana que fez com que estes materiais apareçam tombados. O vale é encantador mas faltou a luz do sol e um céu azul para realçar a beleza do local.
Na terceira paragem, é necessário caminhar algumas centenas de metros para alcançar aquilo que os argentinos chamam a "Cancha de Bochas", uma área onde aparecem rochas em forma de bola, em tudo semelhante a calhaus rolados mas sem qualquer tipo de transporte fluvial ou glaciar.
Depois de ver alguns dos calhaus com duas ou três bolas juntas (parecem moléculas), rapidamente se percebe que não podem ser resultado nem da erosão fluvial nem de disjunção esferoidal. A explicação parece não ser muito estranha.
Ao que parece, os sedimentos arenosos acumulam-se em áreas onde existem materiais de composições diversas. A água subterrânea irá atravessar estes sedimentos e criar um cimento que irá unir os grãos formando assim uma rocha. Este cimento, predominantemente carbonato de cálcio, é atraído por algumas partículas e acumula-se em maior quantidade em seu redor, formando esferas. Quando os materiais ficam expostos o material mais endurecido pelo carbonato de cálcio aflora à superfície como bolas, as "bochas" desta formação tão peculiar e ao que parece única no mundo.  
No regresso aos veículos ainda vi a "esfinge". Nada que me impressionasse, até porque já tinha visto a do Cairo (que se diga está muito melhor esculpida).
Na quarta paragem, o grande atractivo do parque é uma formação rochosa designada "submarino". "Yellow submarine, yellow submarine" soava-me nos ouvidos. Esta formação, juntamente com o "Hongo", na quinta paragem, são as imagens de marca do parque de Ischigualasto. 
No final do percurso, os veículos acompanham cerca de 6km de parede vertical de materiais avermelhados. É impressionante. Infelizmente, por esta altura começou a chover e não pudemos parar mais. Afinal de contas não se perdeu tudo. Entretanto cheguei ao museu que alberga algumas réplicas das ossadas de dinossauros (os mais antigos do mundo) descobertas por paleontólogos de Harvard. As verdadeiras andam por terras norte-americanas. Por esta altura já chovia torrencialmente. 
O parque estava fechado há 3 dias e depois da minha visita voltou a fechar. Há muito tempo que não chovia aqui assim. Estamos numa área desértica e quando ocorre precipitação é uma tragédia para o turismo. O tour que contratei em Valle Fértil era para visitar também o Parque Nacional de Talampaya mas depois das chuvas o parque encerrou. Sendo assim, só havia uma coisa a fazer, regressar a Valle Fértil. O que não contava é que uma viagem de 50 minutos se transformasse em 4 horas em que as estradas se transformassem em rios, onde o caudal cruzava as vias como se por lá tivesse passado toda à vida. A natureza a reclamar aquilo que lhe pertence. 
Foi uma autêntica aventura chegar a Valle Fértil mas tudo acabou bem. A agência devolveu-me o dinheiro do segundo tour (parque de Talampaya) e eu resolvi mudar os meus planos. Não queria ficar presa em Valle Fértil devido ao corte de estradas. No dia seguinte havia que regressar a Mendoza.